domingo, 13 de março de 2011

De que cor pinto isto?

Uma vez escolhido o modelo vem a inevitável pergunta:
- De que cor pinto isto?

Ao traduzir para a pintura os seus sentimentos, o maior aliado do artista é, sem dúvida, a cor. Para pintar, nos valemos das CORES PIGMENTO, ou seja, cores compostas de matérias corantes com as quais podemos imitar aquelas que vemos nas paisagens, pessoas e objetos.

Para que esta representação seja perfeita, devemos conhecer as combinações possíveis entre os pigmentos, de tal forma que possamos imitar com perfeição a cor a ser retratada. O objetivo da mistura de cores é criar o maior número de opções a partir de um número mínimo de cores. A mistura dos pigmentos chama-se MISTURA SUBTRATIVA, o que significa que a luz é removida, ou seja, a cor resultante é sempre mais escura do que a mais clara das cores que foi misturada, pois subtraiu-se a luz.

Os pigmentos são compostos que se mantêm como partículas discretas e podem ser moídos em uma suspensão. As cartas de cores dos grandes fabricantes possuem em geral algumas dezenas de cores, mas uma paleta reduzida é garantia de sucesso e harmonia cromática para pintores em geral. 



Eu, pessoalmente, trabalho quase que invariavelmente com apenas 13 cores: 
1. Verde Viridian
2. Amarelo de Cádmio
3. Amarelo Limão
4. Amarelo Ocre
5. Terra de Siena Natural
6. Terra de Siena Queimada
7. Sombra Queimada
8. Azul da Prússia
9. Azul Cobalto
10. Azul Ultramar
11. Alizarim Crimson
12. Vermelho de Cádmio
13. Branco de Titânio

Saber como conseguir certas cores a partir de outras amplia a paleta do artista e lhe dá uma certa autonomia. Além disto, ao misturar as próprias tonalidades o artista individualiza a sua obra saindo do lugar comum das cores prontas que todos usam de igual forma. Um exercício muito útil é experimentar as misturas possíveis antes de partir para a pintura definitiva.

Inicialmente é preciso entender que a adição de branco ou preto, de nada nos auxiliará na composição da cor em si, pois funcionarão como partes da cor cinza, ou seja, acinzentarão as nossas novas cores. Por tudo isto não é recomendável o emprego, ainda que restrito, de cores prontas – tendem a ser escuras e berrantes e de nada nos adianta tentar clareá-las, pois tornam-se sem brilho e sem vida.

Escureça amarelos acrescentando um pouco de amarelo ocre.

Escureça vermelhos acrescentando um pouco de alizarin.

Escureça azuis acrescentando um pouco de azul da Prússia.

Escureça verdes acrescentando um pouco de azul da Prússia.



Para fazer uma gradação analise cuidadosamente as cores da composição dividindo as mudanças em três ou quatro etapas e prepare a mistura para cada etapa. Observe estes exemplos:

Considere que um dos aspectos mais gratificantes da pintura é a oportunidade de expressão pessoal. Trabalhar com as próprias emoções e impressões na interpretação de um determinado tema é o que lhe confere o título de artista!

Ao escolher as cores de acordo com as suas impressões subjetivas, não esqueça de estudar uma estrutura cromática para que não pareça que as cores foram apenas jogadas à tela por um “borratelas” – compare os tons, estude as escalas e sombras e evite usar muitas cores que podem tornar sua obra confusa. Bom trabalho!


quinta-feira, 10 de março de 2011

Como utilizar Fotos de Referência em obras de arte



Estudo a partir da fotografia
das penas de uma ave
Aquarela - Fátima Seehagen
Muitos artistas em início de carreira e mesmo os mais experientes me perguntam sobre o uso da fotografia como modelo no desenho e na pintura. É realmente um assunto bastante controvertido! Alguns consideram "truque fácil", outros, com toda a razão, defendem a fotografia como parte do arsenal do artista.

A maior vantagem de usar fotos como referência é que você pode captar efeitos de luz, sombra e movimento que na maioria das vezes se alteram em questão de minutos. Outra vantagem é que você pode escolher um motivo e colocá-lo em um cenário à sua escolha - é assim que trabalham os artistas que utilizam a fotografia: ao invés de criar a sua obra a partir de uma única foto, reúnem uma coleção e montam com ela uma composição artística!

Com a popularização da fotografia, a partir de 1888, esta se tornou um espetacular instrumento de uso para os pintores, que buscavam a fidelidade ao real passando a ser utilizada como método de observação, muitas vezes em substituição ao modelo vivo.

BATALHA DO AVAHY - 1872/1877
Pedro Américo
No Brasil, o pintor histórico Pedro Américo, que tinha no desenho e na preocupação com a execução das figuras, um dos traços característicos de sua pintura passaria a usar fotografias fiéis e realistas como modelo, sem descuidar entretanto, da imaginação criadora e memória inventiva para representar o movimento e fixar uma ação significativa e dramática na pintura das batalhas que representava. Não pintava aquele instante aleatório, petrificado da fotografia da época, mas o instante mais significativo do fugaz movimento.

Esta conciliação entre realismo fotográfico e imaginação é que o afasta uma criação artística da frieza convencional do idealismo figurativo.
É sabido que a maior parte dos foto-realistas usam fotografias como uma fonte impessoal para o imagismo visual. Os prefixos “super”, “radical”, “hiper” e “foco-nítido” já foram aplicados a este realismo devido à sua extrema veracidade e minuciosidade de técnica.

Desenho do fotógrafo Nadar no jornal Amusant ( Paris – 1857 ) com a legenda:
“ a ingratidão da pintura recusando o menor dos lugares na exposição à fotografia ,
a qual tanto deve”
Também vários outros estilos de pintura utilizam a fotografia como referência, mesmo em criações abstratas através da translação em desenho ou da abstração por referência.

O Direito Autoral da imagem


Entretanto, é preciso considerar que a obra intelectual é protegida pelo Direito Autoral onde, é considerada obra intelectual a expressão material da criação do autor, tais como livros, folhetos, escritos de qualquer natureza, conferências, obras dramáticas, composições musicais com ou sem letra, obras cinematográficas, fotográficas, desenhos, pinturas, gravuras, ilustrações, cartas geográficas, obras plásticas em geral, traduções e adaptações. **Fonte:
CABRAL, Plínio. A nova lei dos direitos autorais - Comentários. Porto Alegre: Sagra Luzzato, [1998].


Para usufruir das vantagens da fotografia como modelo, sem no entanto infringir a lei do Direito Autoral, o artista deve fotografar pessoalmente os seus temas, imprimindo o seu olhar pessoal sobre o universo do tema que desenvolve, colecionando um banco de imagens que lhe será útil em toda sua carreira.